quarta-feira, abril 2, 2025

Som da Liberdade: O Filme que Desatou uma Trama de Controvérsias, da Ação Heróica à Reviravolta

Já era de conhecimento geral que blockbusters como Oppenheimer, Barbie, Indiana Jones e Missão: Impossível dominariam as bilheterias norte-americanas neste verão. Contudo, o que ninguém, nem mesmo os mais astutos prognosticadores, poderiam prever é que um filme de temática cristã, inicialmente subestimado pela Disney, se destacaria robustamente ao lado das grandes produções do ano no topo das paradas. Estamos nos referindo a ‘Som da Liberdade’.

Este thriller, baseado em uma história real sobre tráfico humano, tem capturado a atenção do público americano e da imprensa, mas não apenas pelos impressionantes números de bilheteria. No meio do sucesso inesperado, surgiram diversas controvérsias envolvendo a autenticidade da trama, os números potencialmente inflados nas bilheterias e os principais defensores do filme. A seguir, exploraremos por que ‘Som da Liberdade’ tem gerado tanto debate e discussão.

O QUE É SOUND OF FREEDOM?

Escrito e dirigido por Alejandro Monteverde (conhecido por Little Boy e Bella), ‘Som da Liberdade’ narra a história verídica de Tim Ballard, um ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, também conhecido como Homeland (termo que também é o título de uma série estrelada por Claire Danes). Ballard abandona sua posição oficial para se dedicar a “fazer justiça com as próprias mãos” e lutar contra o tráfico humano.

Interpretado por Jim Caviezel (famoso por seu papel em A Paixão de Cristo), o filme acompanha Ballard em uma de suas missões na América Latina, onde ele se arrisca para resgatar crianças das garras de cartéis e traficantes perigosos.

A jornada do filme até os cinemas não foi tranquila. Filmado em 2018, o projeto permaneceu na gaveta por cinco anos antes de finalmente ver a luz do dia. Inicialmente financiado por um grupo mexicano, o plano era que o filme fosse distribuído pela subsidiária latino-americana da 20th Century Fox. No entanto, quando a Disney adquiriu o estúdio, decidiu engavetar o projeto que já estava pronto.

Contudo, um dos produtores do filme, Eduardo Verástegui (que também tem um papel na produção), conseguiu recuperar os direitos do filme e o ofereceu à Angel Studios, uma pequena distribuidora especializada em produções cristãs, como The Chosen, que prontamente aceitou o projeto.

ENTÃO ISSO SIGNIFICA QUE SOUND OF FREEDOM É BASEADO EM FATOS?

Bem, este é, na verdade, o ponto inicial da intricada rede de polêmicas que envolve a produção. O filme, de fato, tem como figura central Tim Ballard, um ex-agente da Homeland que fundou a Operation Underground Railroad (OUR), uma organização sem fins lucrativos voltada ao combate ao tráfico sexual, com existência comprovada.

No entanto, ao longo dos anos, Ballard e a própria OUR foram alvo de contestações relacionadas aos seus relatos. Uma investigação realizada pela VICE News, em 2020, destacou a dificuldade em validar as ações da entidade, frequentemente descritas como “heroicas e excitantes”, como apontou o artigo.

“Ballard afirmou repetidas vezes que a OUR desempenhou um papel central em um significativo caso de combate ao tráfico humano no estado de Nova York e insinuou ter auxiliado no resgate de uma vítima desse caso. No entanto, de acordo com transcrições judiciais e outros registros analisados pela VICE World News, a vítima conseguiu escapar corajosamente do seu traficante por conta própria”, detalhou a reportagem.

O enredo do filme, que envolve o sequestro de dois irmãos atraídos para uma sessão de fotos em Honduras e subsequentemente raptados, carece de fundamentos na realidade, embora os créditos iniciais do filme afirmem o contrário. Conforme revelado por jornalistas investigativos do American Crime Journal (via The Independent), Ballard teria exagerado detalhes sobre a história retratada nas telonas.

Em uma entrevista ao canal The Victory Channel, Ballard se defendeu: “Algumas coisas são definitivamente exageradas. [Jim Caviezel] me faz parecer muito mais legal do que sou, por exemplo.” Ele prosseguiu: “Mas algumas coisas foram subnotificadas, como o fato de não termos resgatado 54 crianças na operação na ilha [retratada no filme].”

Vale ressaltar que, após o enorme sucesso do filme, Ballard deixou a OUR, conforme relatado pela Vice. Segundo a própria organização, a saída ocorreu antes do lançamento do filme. No entanto, novas informações sobre a saída de Ballard foram divulgadas recentemente.

De acordo com uma reportagem adicional também publicada pela Vice, sete mulheres acusam o ex-CEO de comportamento inadequado com colegas de trabalho em missões. As acusações incluem coerção.

Os relatos indicam que Ballard teria insistido para que colegas dormissem e se banhassem com ele para manter as aparências em missões, alegando que isso seria necessário para enganar traficantes. Ele também teria enviado fotos nuas para uma acusadora e questionado outra sobre “quão longe ela iria” para salvar crianças.

Em um comunicado à publicação, a organização confirmou que Ballard “renunciou à O.U.R. em 22 de junho de 2023” e que “ele se separou permanentemente da O.U.R.”

O grupo afirmou ter “contratado um escritório de advocacia independente para conduzir uma investigação abrangente de todas as alegações relevantes”, mas se recusou a fazer mais comentários “para preservar a integridade de sua investigação e proteger a privacidade de todas as pessoas envolvidas.”

Apesar de Ballard aparentemente ter inspirado o filme, sua conexão exata com ‘Som da Liberdade’ permanece nebulosa, uma vez que não é mencionado como roteirista ou produtor. No entanto, Ballard esteve presente em eventos no tapete vermelho do filme no final de junho e agosto.

O enredo complexo e controverso, no entanto, está longe de chegar ao seu desfecho.

Jonathan Souza
Jonathan Souza
Engenheiro de Banco de Dados com Formação em Bacharelado em Ciências da Computação pela Universidade de Guarulhos atuante no mercado a mais de 10 anos. Além de trabalhar com sonoplasta no mercado de trabalho e igrejas, técnico de som por formação e escritor voluntário. Apesar de formado na área de exatas, se aventurou com as palavras entrando para o time de colunistas da Visão em Cristo.