Nos últimos dias, nossa pastora presidente Marineide Simas tem ministrado um estudo sobre o caráter de Cristo em nós. Tenho refletido profundamente sobre esse tema e percebi algo fundamental: não há transformação genuína sem dor.
Se queremos que nosso caráter se alinhe ao de Cristo, inevitavelmente teremos que passar pelo que chamo de “caminho da cruz”. Esse caminho não é confortável, não é agradável e, muitas vezes, é repleto de perdas e abstenções. Mas por que isso acontece? Porque ser moldado por Deus significa abrir mão de tudo aquilo que faz parte da nossa identidade terrena para absorver a identidade de Cristo.
Em Filipenses 2:5-8, Paulo nos dá um modelo claro desse processo:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.”
Jesus, sendo Deus, abriu mão de Sua glória e viveu a maior renúncia que já existiu. Ele não apenas suportou a cruz, mas escolheu um estilo de vida que era contrário a qualquer lógica humana. E se queremos refletir o caráter d’Ele, teremos que passar pelo mesmo processo de renúncia e transformação
O Conflito com a Cultura: Ser Cristão é Ser “Trouxa”?
Vivemos em uma cultura onde “ser esperto” significa encontrar formas de levar vantagem. É um pensamento tão enraizado em nossa sociedade que nem percebemos quando estamos agindo assim. Alguns exemplos?
- Procuramos maneiras de assistir filmes e séries sem pagar.
- Desbloqueamos programas pagos para usar de graça.
- Fazemos os famosos “gatos” para burlar contas de energia, internet e TV.
- Damos “jeitinhos” para evitar regras ou tirar proveito de situações.
Isso tudo se tornou tão comum que, para muitos, não parece errado. Afinal, “todo mundo faz”, certo? Mas quando olhamos para Cristo, percebemos que Ele não tomava atalhos e não usava de artifícios para benefício próprio. Ele foi obediente, íntegro e incorruptível.
A grande verdade é que viver de forma honesta e íntegra, segundo os princípios do Reino de Deus, faz com que sejamos vistos como trouxas pela sociedade. Ser honesto quando todos estão trapaceando é ser “otário”. Ser generoso quando todos buscam vantagem é ser “ingênuo”. Ser paciente e perdoador quando se espera vingança é ser “fraco”.
Você já deve ter ouvido essa frase: “Sou crente, mas não sou trouxa!”. Mas será que não somos chamados exatamente para sermos “trouxas” no sentido que o mundo define? Em 1 Coríntios 1:27, Paulo escreve:
“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes.”
Cristo nos chamou para um estilo de vida que parece loucura para o mundo. Em Mateus 5:39-41, Ele ensina algo totalmente contra-cultural:
“Se alguém lhe bater na face direita, ofereça-lhe também a outra. Se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.”
Isso faz sentido para o mundo? De maneira nenhuma! Mas faz sentido para o Reino de Deus.
Abandonando Nossa Cultura para Absorver a Cultura do Reino
Ter o caráter de Cristo significa abrir mão da nossa identidade cultural para assumir a identidade do Reino. E essa transição nunca é fácil. Somos ensinados desde cedo a defender nossos próprios interesses, a buscar conforto e a nos esquivar do sofrimento. Mas Jesus nos chama a fazer exatamente o oposto.
Romanos 12:2 nos alerta sobre essa transformação:
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Isso significa que teremos que rejeitar crenças, hábitos e valores que antes pareciam naturais para nós.
- Onde o mundo diz para trapacear para obter vantagem, o Reino diz para agir com honestidade.
- Onde o mundo diz para odiar quem nos machuca, o Reino diz para amar os inimigos.
- Onde o mundo diz para buscar riquezas, o Reino diz para ajuntar tesouros no céu.
Esse processo pode ser doloroso, pois significa ir contra tudo o que aprendemos. Mas é exatamente isso que define a verdadeira transformação de caráter.
O Caminho da Cruz: Sofrimento, Mas também Glória
Quando olhamos para a vida de Jesus, vemos que o sofrimento foi um caminho inevitável para a Sua glorificação. Filipenses 2:9 nos mostra a consequência da Sua obediência:
“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome.”
A cruz foi dolorosa, mas trouxe ressurreição. O sofrimento foi intenso, mas gerou redenção. O caminho da renúncia parece loucura, mas leva à glória.
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Se queremos realmente refletir o caráter de Cristo, precisamos aceitar que seremos vistos como “trouxas” pelo mundo. Mas lembre-se: no Reino de Deus, os últimos serão os primeiros, os que perdem suas vidas as encontrarão, e os que servem serão exaltados.
O sofrimento da cruz pode parecer pesado agora, mas a glória da ressurreição é incomparável.
Conclusão: Está Pronto Para Ser “Trouxa” por Cristo?
Ser cristão, na visão do mundo, muitas vezes significa ser “trouxa”. Significa abrir mão de direitos, perder vantagens, sofrer injustiças e seguir um caminho de renúncia. Mas, na visão do Reino, significa ser semelhante a Cristo.
Se queremos verdadeiramente o caráter de Cristo em nós, precisamos estar dispostos a abandonar nossa cultura, nossa identidade terrena e até mesmo nossa necessidade de aceitação. O caminho da cruz é doloroso, mas é o único caminho para a transformação genuína.
E aí, você está pronto para ser “trouxa” por amor a Cristo?