Isabella Baumfree mais conhecida como Sojourner Truth, foi uma mulher negra abolicionista, pregadora itinerante pentecostal e uma ativista pelo direito da mulher.
Nascida escrava em 1797 em Nova Iorque seus pais James Baumfree e Elizabeth Baumfree tiveram 13 filhos dos quais 11 foram vendidos como escravo e levado para longe da família, Isabella e seu irmão mais novo Peter foram os únicos que tiveram a chance de crescer perto de seus pais.
Mesmo sendo escravizados pelo coronel holandẽs Hardenbergh, a família vivia unida em uma cabana dentro da propriedade do senhor, algo raro para época.
– Meus filhos, existe um Deus, que ouve e vê vocês.
-Um Deus, ‘mau-mau’! Onde ele vive ? – perguntava as crianças.
-Ele vive no céu -ela respondia- e quando vocês forem espancados, ou tratados com crueldade, ou caírem em algum problema, vocês devem pedir a ajuda dele, e ele sempre irá ouvir e ajudar vocês.
Vendida por 100 dólares e um rebanho de ovelhas
Aos 9 anos de idade, Isabella foi separada de seus pais e vendida em um leilão junto com um rebanho de ovelhas por 100 dólares algo em torno de 592 reais hoje. Seu novo dono John Neely, que ela descrevia como um homem cruel que a espancava.
Isabella foi vendida mais algumas vezes até chegar as mãos de John Dumont, que seria seu último dono, enquanto trabalhou para ele ela aprendeu a falar inglês, embora nunca tenha aprendido a escrever.
Em 1815 com 18 anos, Isabella foi forçada a se casar com Thomas, escravo mais velho deDumont, com quem teve 3 filhos, Peter, Elizabeth e Sophia. Antes disso Isabella teve uma filha chamada Diana com Robert um escravo de uma propriedade vizinha, o relacionamento foi proibido pelo seu dono.
Em 1826 alguns meses antes da abolição dos escravos em Nova Iorque Isabella conseguiu fugir junto com sua filha caçula Sophia, visto que os mais velhos não teriam direitos garantidos pela lei em caso de fuga. Isabella conseguiu refúgio com Isaac e Maria Wagener. Durante sua estadia, Isabella se converte ao Cristianismo.
De Isabella para Sojourner Truth
Em 1º de junho de 1843 que ela teve uma visão em que o espírito santo lhe dava um Nome. “Sojourner”, que significa peregrina, Mas ela pediu a Deus um segundo nome, pois todo mundo tinha dois nome, e ele lhe deu “Truth”, que significa verdade, sendo assim ela passou a ser chama de Sojourner Truth, A peregrina da verdade e não mais Isabella Baumfree.
“Obrigada, Senhor, esse é um bom nome. Tu és meu último mestre, e seu nome é Verdade.”
“O Espírito me chama, e eu devo ir”
Depois de 15 anos vivendo na cidade de Nova Iorque, já aos 46 anos, passou a perceber que aquela cidade era uma verdadeira Sodoma, onde “o rico rouba o pobre, e os pobre se roubam mutuamente”.
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Depois de várias tentativas de sobreviver na cidade e cumprir a missão para qual acreditava ter sido chamada, se sentia rejeitada pelos negros que tentava atingir com sua pregação do Evangelho. Foi então que decidiu se tornar uma pregadora itinerante.
Embora tenha tido algum contato com missões Metodistas, Isabella provavelmente se tornou uma missionária pentecostal e independente, sem ninguém que a garantisse o sustento financeiro, emocional ou espiritual além de Deus.
Durante suas viagens, Sojourner Truth se alimentava e dormia onde quer que lhe oferecessem abrigo. Surpreendentemente para ela, normalmente os mais pobres o faziam. Algumas vezes parava em igrejas e pregava, cantava e orava, quando lhe ofereciam a oportunidade.
Quando precisava ganhar algum dinheiro, permanecia na cidade por alguns dias para fazer trabalho doméstico. Não tinha medo de viver daquela maneira. Segundo seus relatos, fez verdadeiros amigos naquele tempo, com quem compartilhava da verdadeira comunhão do Espírito.
“Não sou eu uma mulher?” – Ain’t I a Woman?
Seu discurso mais famoso “Ain’t I a Woman?”, foi pronunciado na Convenção dos Direitos da Mulher de Akron, Ohio, em 1851. A convenção foi realizada entre clérigos para debaterem os direitos das mulheres, em especial o sufrágio feminino. Entretanto, a igreja onde ocorria o evento foi invadida por um grupo de zombeteiros que enfatizavam a supremacia masculina.
Sojourner Truth foi responsável por salvar a convenção, a única a conseguir responder os ataques agressivos e refutar os argumentos. Enfatizando com ironia a intersecção entre gênero, raça e classe, Truth derrubou a lógica de que a fraqueza feminina as impedia de serem dignas de voto. Para ler seu discuso completo clique aqui
A pregação de Sojourner Truth
“Daí aquele homenzinho de preto ali disse que a mulher não pode ter os mesmos direitos que o homem porque Cristo não era mulher! De onde o seu Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com isso.
Se a primeira mulher que Deus fez foi forte o bastante para virar o mundo de cabeça para baixo por sua própria conta, todas estas mulheres juntas aqui devem ser capazes de consertá-lo, colocando-o do jeito certo novamente. E agora que elas estão exigindo fazer isso, é melhor que os homens as deixem fazer o que elas querem.
Agradecida a vocês por me escutarem, e agora a velha Sojourner não tem mais nada a dizer.”
Como pregadora e teóloga – talvez não de formação, visto que mulheres negras eram proibidas de frequentarem seminários na época, mas de vivência e chamado – Sojourner foi capaz de destruir os argumentos teológicos e leituras bíblicas machistas e heréticas que justificariam a inferioridade das mulheres. Ela resgata duas personagens bíblicas importantes e sugere uma nova leitura sobre suas histórias. Maria, mãe do Salvador, e Eva, culpabilizada pela entrada do pecado no mundo. Mais do que isso, Sojourner Truth conclama todas as mulheres a consertarem o mundo, proclamando a justiça colocando-o do jeito certo novamente.
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